Quem tinha uma máquina de escrever é porque fez curso de datilografia e teve direito à formatura com certificado e tudo. Uma pompa em se tratando de diferencial competitivo para o mercado de trabalho da época; cabia como um ponto a favor para busca de emprego, por exemplo
Mas o que importa é pensar que ao se fazer um paralelo com a tecnologia, antes a gente precisava de foco! E foco no acerto, pois o erro era quase inegociável e dava um baita trabalho errar. Não tinha espaço para ele, a atenção precisava estar na ponta dos dedos que tinham que ser precisos, firmes e fortes, além do pensamento dentro do cérebro, atento e assertivo. Atenção sem desvios, atenção sem desatenção!
No curso decorar as teclas “ASDFGHJLÇ ^” para conseguir digitar sem olhar é o que garantia a eficácia do aprendizado. E você acabava desenvolvendo a habilidade do ato de digitar, aumentava o tempo de digitação e quanto mais preciso mais rápido! Ponto positivo no currículo: digitar tantas “X” palavras em tantos “X” segundos era considerado como viés competitivo, e tudo isso sem olhar para as teclas enquanto digita. Mas, ter certeza do que se estava digitando te fazia pensar em cada palavra num estado de presença que hoje não nos atentamos tanto.
“Estar presente” valida nosso potencial criativo, só que basta que possamos errar a vontade para que esse potencial seja diluído pelo tempo. Errar e corrigir sem preocupação nos faz avançar e retroceder e isso desfoca o pensamento e a crítica.
Hoje eu agradeço minha preciosa máquina, que ainda funciona e está na mesa do meu escritório. Graças à “ela” a minha digitação acompanha o meu cérebro, meu pensamento ficou mais ágil e dinâmico e consigo escrever como se estivesse “conversando” com alguém, ainda que volte para acertar um ou outro ponto. Escrever não é fácil e nem tão simples. É uma arte que para uns é dom e para outros é treino. (Estou no segundo grupo!)
Hoje vejo que o erro e o acerto deixaram de ter as importâncias devidas, pois tudo pode ser deletado e reescrito sem ter que sacrificar as árvores e o ambiente com as folhas de papel jogadas no lixo. Não precisamos mais furar a folha tentando apagar com a ponta da borracha umedecida com saliva!
E isso é pensar na outra ponta: como a tecnologia e a inovação facilitaram a nossa vida.
Ainda que tudo (ou quase) seja possível em se tratando de construção de conhecimento, poder errar a vontade nos deixa livre para fazer algo ainda mais grandioso. Nos “devices” você brinca do jeito que quiser, já que pode ser corrigido quanto e quantas vezes forem necessárias. Mas, todo conceito e toda história que será contada precisa de um roteiro, uma lista que direciona as ideias, para onde queremos conduzir o leitor. E apesar de toda a tecnologia, o preparo ainda continua sendo fundamental para que se conte uma boa ideia e isso é e continuará sendo humano. A tecnologia aqui só tem espaço se houver pensamento ordenado e crítico.
O acerto ficou mais tecnológico do que humano e é ótimo mesmo poder corrigir sem tanta tensão.
Facilidades à parte, o foco no acerto é o que importa. Digitar sem olhar, acertar cada tecla, ter certeza que seu cérebro está conectado com o que se está fazendo é o legado da datilografia na máquina de escrever e te dá uma certa sensação de “controle”.
E esse paralelo entre as facilidades e o trabalho de aprender executando, é o que nos torna proprietários do que queremos contar sobre as nossas vidas e nossas histórias.
Bons tempos lá e ótimos tempos cá.
Um abraço,
CS
#crissantos #BrainFit